Feares: O trio de brabinhas no remo capixaba e o legado familiar
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Criado em Sexta, 19 Abril 2024 08:38
O Remo é um dos esportes mais tradicionais no Espírito Santo. Contar o desenvolvimento da modalidade, é contar boa parte da história do centro de Vitória, capital do estado. As regatas são feitas tradicionalmente na raia do porto, na Avenida Beira Mar, entre três cartões postais capixabas: as cinco pontes, passando pelo Forte São João e a Pedra do Penendo.
Mas não é só de cartão postal que se vive o remo capixaba, construído por remadores que tiveram tanta dedicação que se tornou um legado entre famílias mais que tradicionais neste esporte. Nesta primeira regata da temporada 2024, podemos observar isso. Três das remadoras iniciaram no remo vendo seus pais remarem. São elas a Julia Oliveira Jorge, remando o skiff juvenil, e as irmãs Clara e Alice Tomaz, remando o skiff junior A e o double skiff infantil.
Família Tomaz: As brabinhas começaram no remo pelo exemplo que elas têm em casa. Clara, de 16 anos, e Alice, de apenas 12 anos, têm no seu pai, Fabrício Tomaz, a inspiração necessária para iniciar no esporte. O convite veio do Treinador do Alvares Cabral, João Luiz Nascimento, para a Clara, que trouxe a irmã mais nova junto.
"Sempre mostrei a elas o meu amor por esse esporte e a Clara teve curiosidade em conhecer. João, que ainda é técnico do Álvares, convidou Clara para remar, que já levou a Alice também. Eu dificilmente vou ao clube acompanhar justamente por saber em excelentes mãos e por confiar nele. Além disso, eu não teria a paciência de assistir sem dar minhas opiniões. E sei que a maioria dos filhos de ex-remadores historicamente não continuam no remo, muito devido à pressão dos pais. Elas hoje amam o remo e se divertem muito no esporte. Levo as duas e mais 05 meninas ao Álvares, deixo lá e vou para a Amares fazer meu treino. Na volta, busco todas, levo para a escola e vou trabalhar. De segunda a sábado", afirma Fabrício, o Mad.
Campeão Brasileiro e vice sul-americano, em 1993, pelo Álvares Cabral, Fabrício descobriu o remo aos 13 anos de idade e se apaixonou pelo esporte. Atualemnte, o remador é colaborador da Feares e rema pela Amares. Além das duas filhas, a esposa do atleta, vendo a animação das meninas, também ingressou no remo. Quem sabe, em breve, não teremos um four skiff da família Tomaz na baía de Vitória?
Família Oliveira Jorge: Na prova do single skiff juvenil, a atleta Julia Oliveira, de apenas 13 anos, emocionou toda a sua família quando estreou com vitória na primeira etapa do estadual. A remadora liderou a sua prova do início ao fim. A família inteira mesmo!
A atleta vem de uma família super tradicional do remo Capixaba. Filha de Marcelo Oliveira Jorge, vice-campeão brasileiro em 1982 pelo Álvares Cabral e neta de Roberto Pereira Jorge, nadador e remador do Álvares, isso pelo lado paterno. Pelo lado materno, ela é sobrinha de Jose Augusto de Oliveira, o Caranguejo, e Elisio Ribeiro de Oliveira, o Mussum, duas verdadeiras lendas do remo do Espírito Santo.
Como se não bastasse, Julia ainda é prima de Sergio Ribeiro de Oliveira, o Caranguejinho, campeão brasileiro peso leve de single skiff super respeitado em Vitória. Tudo começou devido ao bisavô materno de Julia, que teve 12 filhos e um caiaque em casa e amava o esporte. Ensinou todos os filhos a remar e dois deles ingressaram no Remo e foram destaques.
Caranguejo e Mussum: Marcelo e sua filha Julia são sobrinhos de duas lendas do esporte capixaba: Jose Augusto de Oliveira, o Caranguejo, e Elisio Ribeiro de Oliveira, o Mussum. Elisio foi campeão na regata do Bi Centenário de São Paulo e Caranguejão, apelido no aumentativo quando seu filho Sergio Ribeiro de Oliveira começou no remo e se tornou o Caranguejinho, inúmeras vezes campeão estadual e continuou na ativa como master até os 80 anos.
Os irmãos Mussum e Caranguejão remavam em barcos distintos, mas todos os dois no Álvares Cabral. O primeiro era um voga e 1.94cm, que, de acordo com Marcelo, era temido pelos adversários. Já o segundo irmão, skifista, imbatível por anos na baía de Vitória e depois dos 70 anos ainda remava sul-americano pela Amares, conquistando uma medalha de bronze para a associação.
Come e Dorme: Não é só o amor pelo esporte que passa de pai para filho na família Jorge. O pai de Julia ganhou o apelido de Come e Dorme do seu pai, Roberto Pereira Jorge. A alcunha veio porque o remador e nadador cabralista, vindo do interior, comia e dormia no clube. Roberto pertenceu à equipe de natação que inaugurou a piscina olímpica na sede do Álvares e foi campeão estadual algumas vezes usando o uniforme alvinegro.
"Meu apelido veio do meu pai. Hoje, eu sou conhecido como Marcelo Come e Dorme por causa dele", comenta o remador. Em 1982, o atleta, também remando pelo Alvares Cabral assim como o seu pai, foi vice-campeão brasileiro, chegando atrás apenas no Flamengo na Lagoa Rodrigo de Freitas. Nesta primeira regata da Feares ver a filha remando e ganhando foi uma grande emoção.
"Muita emoção, meus familiares estão no remo desde 1950. Ela é a continuação de um legado e foi por vontade dela. Levei para conhecer outros esportes, mas insistia no remo. Via fotos nossas, dos tios e primos, nas competições durante a década de 80", explica Marcelo.
Definitivamente, o trio de brabinhas do remo capixaba promete escrever a própria história e trazer muito orgulho para suas famílias. Estamos de olho e na torcida para que, em um futuro em breve, vejamos essas meninas arrasando e se destacando na modalidade, dentro e fora do Espírito Santo.