Seleção Brasileira: A grande lição de vida de Evaldo Mathias Becker e Piedro Xavier
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Criado em Quinta, 27 Junho 2024 11:43
Em carta resposta para a CBR, a World Rowing lamenta a decisão e espera que em breve possam ajudar e trabalhar com os nossos atletas Evaldo Mathias Becker e Piedro Xavier. A Confederação, com o endosso no Comitê Olímpico Brasileiro, entrou com o pedido para que os remadores da Seleção Brasileira pudessem competir em Paris 2024.
O pedido foi baseado no conceito de Olimpismo e de ajuda humanitária que os nossos atletas apresentaram durante a maior tragédia ambiental da história do Rio Grande do Sul, que fez com que os remadores desistissem de competir pela vaga olímpica para ajudar famílias gauchas atingidas pelas enchentes.
Em trecho da carta o Presidente da World Rowing afirma: "Simpatizamos profundamente com o impacto devastador das inundações sobre Evaldo, Piedro, suas famílias e a comunidade brasileira de remo em geral. A decisão deles de ficar e apoiar seus entes queridos e membros da comunidade, em vez de perseguir seus objetivos olímpicos sonhos, encarna verdadeiramente o espírito de altruísmo, solidariedade e os valores fundamentais do Movimento olímpico. Lamentavelmente, por mais que admiremos e respeitemos a sua escolha corajosa e o espírito exemplar que demonstraram, não podemos conceder vagas de cotas adicionais para Paris 2024. O processo de qualificação olímpica é rigoroso e mantém sua integridade é crucial para a justiça e a credibilidade dos Jogos".
Os remadores da Seleção Brasileira de Remo, Evaldo Mathias Becker e Piedro Xavier, desistiram dos sonhos olímpicos para permanecer no Rio Grande do Sul, depois que fortes chuvas devastaram 96% do estado, dados da Defesa Civil. O estado foi inundado por chuvas torrenciais desde o final de abril que persistiram até a metade de maio; mais de meio milhão de pessoas estão desabrigadas e 147, segundo a última contagem, perderam a vida.
>> Leia aqui o documento da World Rowing na íntegraOs atletas, que competiram juntos no double skiff masculino peso leve no pre- olímpico realizado no Rio de Janeiro em marco, esperavam participar da próxima fase de qualificação para as Olimpíadas em Lucerna, Suíça, ocorrida no final do mês de maio. A categoria foi retirada do programa dos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028, fazendo de Paris sua última chance de classificar seu barco na categoria.
Mas os remadores se juntaram a outros atletas da modalidade e pessoas de todo o Brasil que distribuíram ajuda e usaram barcos para salvar vizinhos, desconhecidos e animais de estimação abandonados. "A nossa prova está aqui agora. Não poderia viajar e deixar a minha filha em um abrigo", afirmou Evaldo em entrevista para a BBC.
Evaldo e Piedro estavam na fase final da preparação para o Lucerna, mas foram diretamente afetados quando as enchentes atingiram o Grêmio Náutico União, clube em que estava o barco dos atletas, na capital Porto Alegre. Os remadores treinaram até a véspera das chuvas, quando toda a tragédia começou.
“Nosso centro de treinamento foi muito afetado, perdemos nosso barco, remos e vários outros equipamentos essenciais para nossa preparação e diante disso nosso foco mudou, passou a ajudar o povo gaúcho, nosso povo. Tomamos muita consciência do tamanho da catástrofe que estávamos enfrentando aqui no Rio Grande do Sul, vendo milhares de famílias desabrigadas, pessoas sendo resgatadas em meio às enchentes, crianças, amigos, familiares, todos sofrendo muito. Foi nesse momento que decidimos ficar”, explicam os remadores.
A dupla, juntamente com outros oito remadores, trabalhou sem parar para ajudar nos esforços de socorro – embora alguns deles tenham perdido tudo nas enchentes. “Estamos resgatando vítimas, animais, ajudando famílias em situação de rua e com a logística das doações”, explica Evaldo. “É muito doloroso e triste ver nossos familiares e amigos passarem por isso, pessoas perdendo completamente tudo o que tinham, essa enchente devastou todo o nosso estado, levando sonhos, planos e vidas".
“A enchente também tirou nosso sonho, nossas expectativas e esperanças. Foi difícil decidir, mas estamos tranquilos com a nossa decisão e focados em ajudar e servir o nosso povo”, afirma Piedro
A lição de vida de Evaldo e Piedro vai muito além das raias de remo. A CBR está ao lado de seus atletas na decisão dos mesmos e lamenta que a tão sonhada vaga não veio para Paris 2024.
Imagens: CBR/Satiro Sodré